30.12.04

Vôo sem asas

O sol morre lentamente. Lentamente morre em mim o brilho do encanto. A tarde ganha cores de melancolia. Saudades do que ainda não vivi. O vazio na alma exige um novo renascer. Teimo em esperar. Mais um dia. Mais dois ou três. Esperança sem asas. Mas ainda esperança. Fecho os olhos. Viro lembranças. Renascerei. Quando arrancar do calendário as tardes de dezembro.


11.12.04

Agora Cínica

Ergue um pouco a saia.
Ajeita a blusa pro ombro ficar à mostra.

Na bolsa, o necessário:
Batom, delineador, o velho pente desdentado,
Um OB para a emergência,
O celular descarregado
Em chamadas não atendidas.

Na cabeça leve demência
Estanca qualquer pensamento.

No coração a ausência
De antiga e remota repulsa.

É só ventre.
Este sim pulsa tomado pela urgência.

Respira fundo,
Ensaia,
Chacoalha as ancas,
Sorri.

De lirismo nem lembra mais.
Aprendeu a ser arguta.

Doravante só busca o prazer.
Desce a rua resoluta
e
Se ao voltar trouxer revide
Terá sido absoluta.



Adélia Theresa Campos
10/12/04