11.9.04

Flagrante

Ela descia a rua pensando no seu destino ingrato. De repente o pé vira e a dor tira-lhe o fôlego.
Não! Aquilo não era destino de um ser humano! Levantar às cinco, sair pela rua escura às seis e quebrar o pé do nada! Definitivamente iria voltar para cama.
Sentada na calçada, pés nas mãos, lágrimas rolando no rosto, ela era apenas dó de si mesma.
E o atestado? A cama não justificaria sua falta.
Buscou na memória o que havia dentro da bolsa. Tudo menos grana. Nada de táxi.
Levantou-se e deixou-se ir mancando.
Lembrou do ex-marido e maldisse seu orgulho. Para ele não ligaria.
Não havia namorado. Apenas companheiros eventuais de sexo. Pinto amigo.
Às vezes a solidão virava inimiga.
Mas sentir-se ela mesma valia a dor no pé. E valia a dor na alma.
Continuou descendo a rua.
Mancando.