12.7.04

Choro bêbado

A reprodução de uma pintura qualquer olhava-o torta na parede. Cobrindo as marcas do velho retrato que jazia no porão. Deixara-o lá como a exorcizar as lembranças. A casa ainda guardava o cheiro dela. Estava inteira na sua solidão. A garrafa vazia sobre a mesa lembrava-o da última noite. O filete de sangue no canto da boca. O corpo encolhido no chão. O choro baixo guardando a vergonha. No dia seguinte, apenas o vazio. Não havia sequer um bilhete. Nem as roupas. Nem os santos pintados à mão. Nem a velha mala sem tranca. A casa encheu-se apenas do seu choro bêbado. E das saudades que faziam dele uma sombra sobrevivente.