23.6.04

Silêncio do distrato

Ele, ao lado esquerdo da mesa. Ela, à sua frente. Entre eles, um contrato. A vida dele estava naquele contrato a ser assinado. A vida dela estava em outro contrato já assinado. A vida deles dependia de mais uma assinatura. Dois anos no interior do Pará era o passaporte que ele precisava. Dois anos no interior do Pará seria o fim da carreira dela. Ela o olhou nos olhos. A decisão já fora tomada. Levantou-se e deu-lhe as costas. Com mãos firmes ele assinou sua nova vida. Em silêncio ela foi dormir no quarto do filho. Em silêncio ele começou a fazer as malas. No dia seguinte não haveria a vida deles. Haveria ele. Haveria ela. E haveria o filho dela. Do amor, apenas o silencioso distrato.