16.6.04

gratidão das pétalas

catava uma a uma as pétalas caídas
a exalar seu último estertor de vida
sorvia em deleite cada aroma
e cuidadosamente as depositava num alforje
que diuturnamente aos ombros carregava
perambulava perdido no tempo das lembranças
as crianças interrompiam seus folguedos
e o rodeavam em grande alarido
às vezes derrubavam-no em brincadeiras
e ele sorria
há muitas décadas passadas
fora uma delas - ainda era
e eternamente o seria
não fosse o impacto
o motorista embriagado
a decretar-lhe o fim da vida
agora jaz em silêncio e calmaria
seus despojos repousam num jardim
e a tumba permanece sempre ornada
pela multidão das suas pétalas caídas